quinta-feira, 25 de abril de 2013

Gosto da palavra.




As minhas histórias não são melhores ou piores que qualquer outra, mas eu as conto. Minhas opiniões não são as mais acertadas ou as mais erradas, são apenas minhas e eu as exponho. Gosto tanto da sensação de compartilhar falando quanto gosto da sensação de compartilhar escrevendo.
 
Falo e vejo, pela reação das pessoas, o efeito que minhas palavras estão exercendo. Mostro vídeos e fotos e as pessoas entram ainda mais no clima das viagens. Leio pequenos extratos do meu primeiro livro e o público mergulha de vez na minha narrativa e, no momento que conto, também aprendo, pois vejo todos os fatos com os olhos do momento que os vivi e, servindo ao público, me sirvo dele e de suas reações para enfatizar e reinterpretar um fato ou outro. E quando escrevo tenho o prazer de dedilhar e analisar cada palavra que coloco no texto e poder sentir o efeito que o conjunto delas me causa e que espero poder causar em quem decidir ler meus textos, meus livros...

Não sou escritor, mas escrevo. Não tenho a facilidade de lidar com as palavras e com o texto como alguns amigos meus, jornalistas, tem, mas busco colocar o que sinto em cada uma delas, em cada texto, em cada apresentação. Não sou sociólogo ou psicólogo ou mesmo filósofo, mas tento analisar as coisas mais simples e óbvias do cotidiano, que muitas vezes nos passam despercebidas exatamente por serem do cotidiano, mas que não deixam de ser importantes. 

Gosto da Palavra espremida, sentida, sussurrada, sugada, cheirada, gritada, exaurida, degustada, dita, bem dita, mal dita, atirada, jogada, lançada, deixada, escutada, abandonada, ouvida, falada, amada. Gosto da palavra e do efeito que ela me faz. Ponto.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Válvula de Escape


Acompanho futebol desde pequeno, afinal sou um moleque brasileiro e, desde que nascemos, ou mesmo antes, já estamos predestinados a torcer para o time de futebol do pai, do tio, da família ou de qualquer um que tenha o poder de influenciar sua "escolha".

A primeira vez que fui ao Maracanã tinha 3 anos e, claro, me apaixonei. Me desapaixonei quando perdemos a Copa na França em 1998, mas já vinha perdendo o tesão desde a derrota de 1986 pra mesma França. Continuo gostando de acompanhar e torço pro Flamengo mas, quanto mais o tempo passa mais torço por um espetáculo bonito. Gosto do futebol bem jogado mas também gosto de observar o comportamento da torcida da mesma maneira que observo os povos e as culturas dos lugares por onde passo.

O mais interessante do futebol é que se o seu time ganha, você ganha um alvará pra sacanear todos os seus amigos, colegas e "adversários". Se seu time perde você é subitamente diplomado em história do futebol e passa a se lembrar de todos os títulos do passado e jogos onde bateu seu momentâneo algoz e, se seu time não tem um passado de glórias você resgata um passado de cultura, tradição ou qualquer outra asneira para defender sua escolha. E o mais grave ainda: você tem o disparate de se apossar da vitória de um grupo de pessoas que em comum só tem as cores do uniforme que vestem, assumindo como sua e espalhando aos quatro ventos que você fez a escolha certa, que você é melhor que o outro porque sua escolha foi melhor do que a dele, como duas crianças que discutem: eu acerte-ei, você erro-ou. Eu tenho, você não te-em. É panes et circences. É a momentânea satisfação de, ao menos naquele instante, você se sentir compensado pelas suas péssimas escolhas, pelas escolhas errôneas e até pela falta de escolha que teve na vida. Ao menos nesse dia tão efêmero... Eu tenho razão. Eu fiz a escolha certa.

domingo, 27 de novembro de 2011

A explicitude do explicitismo explícito não pode ser explicitada pela explicitação explícita da explicitez

Quando estava estudando e fazendo alguns concursos, me deparei com textos para serem interpretados nas provas de português e questionava que, se interpretar é subjetivo, tanto que existem técnicas para isso – hermenêutica - e, até mesmo o cartunista Jaguar errou ao interpretar um cartoon seu que foi usado como questão em prova recente do Enem, o escritor Mario Prata fez provas de interpretação de seus textos e não passou em nenhuma e, apesar de eu não ter conseguido localizar, dizem que o mesmo aconteceu com o Oswaldo Montenegro e com João Ubaldo Ribeiro que também já tentaram responder a várias questões de interpretação sobre seus textos e erraram com freqüência, pergunto: como o conhecimento de um texto pode ser avaliado em um concurso ou prova através de questões de interpretação de texto decidido unilateralmente por um grupo de pessoas e que por terem um histórico de vida e experiências diferentes tanto do autor do texto quanto do candidato que faz o exame, tenta impor seu ponto de vista de maneira autoritária e como citei anteriormente, diferente do próprio autor?

Qualquer questão de interpretação de textos deveria requerer uma resposta discursiva, aberta, onde o examinado colocaria sua opinião que, por mais “louca” que fosse, estando apoiada numa base explicativa lógica, independentemente se faz sentido ou não para quem lê, mas dentro de um raciocínio lógico e que em determinados casos poderia parecer sem sentido, seria aprovada; ou então os organizadores deveriam consultar o autor sobre qual a resposta mais apropriada entre as que estão sendo propostas pelos organizadores, o que no fundo também creio que não seria justo pois, como escritor bissexto que sou, depois que publico meus pensamentos e impressões eles deixam de ser meus e estão abertos a qualquer tipo de interpretação, tanto que recebo os mais variados comentários além do que dependendo do momento que estou passando em minha vida interpreto de maneiras distintas textos que eu mesmo escrevi. O que prova que a melhor opção é a que descrevo no início deste parágrafo

Temos ainda os extratos de textos que, como extrato, pode ter um sentido totalmente diferente de um texto interpretado como parte de um capítulo ou ainda como parte de um livro inteiro. Assim, quando se interpreta um parágrafo extraído, ele pode levar a conclusões completamente alheias a intenção inicial. Temos visto exemplos nas discussões do STF sobre a constitucionalidade de algumas leis e vemos que se a lei for interpretada por si só ela estaria correta, mas ao ser colocada dentro de um capítulo da constituição essa mesma lei pode ter uma outra interpretação e aumentando ainda mais o olhar sobre essa lei e analisando-a sob a constituição por completo, ela pode ser totalmente inconstitucional.

Essas interpretações fora do contexto são bastante perigosas. Não gosto daquela frase que diz pra nos colocarmos no lugar da pessoa.. Meu Deus, a física diz que dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço! Como eu vou me colocar no lugar de alguém? Não conheço a história dela, os valores, o que ela sente e vive. Não dá pra agir por outra pessoa. Não é para ser indiferente, mas... se colocar no lugar? Muitas vezes passamos pelo mesmo momento, observamos a mesma situação ao lado de uma pessoa com a qual convivemos há anos e, se a perguntarmos sobre suas impressões sobre aquele fato ou momento é muito provável que essa pessoa descreva a situação de uma maneira bem distinta da sua.

Então...cuidado com a maneira que você interpreta uma situação, uma ato, um texto, pois tudo depende do contexto, do momento e a qual plano ele está subordinado, além de depender também da sua formação, do momento que você vive e da cultura onde está inserido.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Se malandro soubesse como é bom ser honesto, seria honesto só por malandragem

Andando por aí, por aqui e por acolá, concluo que uma nação se faz de pessoas que enxergam o bem comum e não apenas a satisfação momentânea e a vantagem individual, que sabem o que é certo e o que é errado e optam pelo que é correto.

As grandes nações assim se tornaram porque seu povo enxergou que somente dessa forma conseguiriam ter um país equilibrado.

Quem não quer poder andar nas ruas e não ver miséria, pobreza, violência?

Precisamos nos envolver, sair dessa inércia onde esperamos os outros fazerem alguma coisa e criarmos um "corporativismo nacional” e não ficarmos defendendo esse ou aquele grupo porque é o mais próximo de nós.

Desenvolver um projeto de Estado, de Nação e não um projeto de poder.

Países europeus, após a destruição quase total da Segunda Guerra, se reergueram e atingiram a posição que tem hoje apenas porque seu povo enxergou isso e assim escolheram pessoas que demonstravam através do exemplo como o povo deveria se comportar e o povo cobrava de seus escolhidos os resultados e, nesse caminho, entraram em um ciclo virtuoso, onde os que não se comportam de maneira devida são expurgados.

Porque não podemos ser assim? Porque temos que usar o jeitinho pra resolver as coisas se, ao criarmos regras claras, podemos desenvolver uma sociedade mais justa? Porque buscamos tirar vantagens de uma posição, quando na verdade essa posição nos foi dada para, com o conhecimento que temos, podermos ajudar e contribuir com os que não tiveram as mesmas oportunidades? Qual a desculpa para esse tipo de comportamento?

Sabemos que a maioria de nós é ético e honesto, pois se assim não fosse já teríamos atingido o caos.

Mas então, porque nós, que somos a maioria do bem, não espalhamos esse “vírus” do bom comportamento, da ética, do bem estar coletivo e começamos a derrubar os que assim não se comportam e que devem ser tratados como párias de uma sociedade justa?

Cada vez que nos deparamos com uma situação que nos choca, que nos constrange, que nos faz questionar o comportamento humano é mais uma situação para alimentar nossa “ambição” de nos corrigir. Se cada um de nós mantiver um comportamento ético isso se espalhará de tal maneira que serviremos de exemplo - como vários de nós servem a seus filhos, família, comunidade - e fazer com que a ética, a honestidade e o bom comportamento sejam um fator para que aqueles que assim não se comportam se sintam alijados, se sintam párias, não só pela sociedade, mas até por sua própria família que ao tomar conhecimento de seu comportamento o isolam, o ignoram, o entregam...como esperamos e vemos acontecer algumas vezes em comunidades pobres onde um pai ou uma mãe entregam seu filho criminoso...

Muitas famílias que se consideram equilibradas e justas são também cúmplices de seus pais, tios, irmãos que desviam dinheiro, levam “caixinhas” por fora, tem um caixa dois... e dizem que não sabiam de nada....

Dizer que não sabia? Fazer vista grossa e nem se interessar de onde surge o dinheiro da família? É como um assassino dizer que não sabia que a arma podia matar. Dizer que desconhecia a lei e por isso podia roubar??

Não se interessar é a pior das decisões, a pior das posições, pois no fim quem sofre com essa escolha somos nós mesmos ao assistir os noticiários, ao andar nas ruas, ao levantar e ver o sol e respirar o mesmo ar que todos respiram.

Como você se sente hoje? Seja honesto, ético e tolerante e espalhe esse comportamento, em breve verá o quanto sua vida, o quanto a vida de todos pode melhorar.

domingo, 28 de novembro de 2010

Encontros, reencontros e desencontros

“A vida de uma pessoa é caracterizada por suas interações com outras pessoas, e essas interações são grandemente estabelecidas por meio de palavras” diz Jean Paul Sartre em sua autobiografia intitulada Palavras. Eu falo mesmo muito da minha vida e das minhas experiências. As vezes falo demais da minha vida e alguma pessoas, segundo o conceito delas, que graças a Deus não é o meu, acham que me exponho demais, e digo que, se não fosse assim, eu não seria o Fred e acabaria me tornando o que as pessoas pensam que sou ou querem que eu seja, o que segundo Julio César é o que acaba acontecendo (o imperador romano dizia que é muito difícil não nos tornarmos aquilo que as pessoas pensam que somos). Por essa minha maneira de ser, as pessoas podem ter a impressão que não estou interessado na vida delas, que só quero falar da minha, mas a sensação que tenho é que se elas não se dispõe a falar de suas vidas, expôr suas opiniões e/ou discutí-las por sobre as minhas, eu é que não vou ficar forçando pois me sinto como se me intrometesse. Se a pessoas quiserem falar de si, de suas experiências e suas opiniões estarei pronto para discutí-las calorosamente.

Todos os contatos que mantenho até hoje com as pessoas que conheci e participaram da minha vida, as relações e as amizades que recuperei através dos sites de relacionamento e as que mantenho há muitos anos, em muitos casos décadas; as ex-namoradas, casos, rolos com quem mantenho contato, me fazem enxergar que de uma forma muito particular me disponibilizo, me dedico a todas as pessoas que passam pela minha vida e as vezes me espanto, me surpreendo com essa vontade que tenho de manter esses laços. Penso isso, porque acho que quando alguém reencontra personagens que fizeram parte de sua história, no passado, é como se esta pessoa se transportasse novamente para àquela época, através das lembranças reavivadas e das emoções que se acordam. Acho que como estou, e tenho consciência de que estou, seguindo meu caminho, realizando meus sonhos, cumprindo ao que me propus nesta vida, consigo ter essa pré-disposição, consigo doar tanto do meu tempo e da minha energia aos outros; e creio que isso só acontece se estiver feliz com o seu trajeto, com suas escolhas e se conseguir, de alguma maneira, orgulhar-se de si mesmo e de suas conquistas. Do contrário, com certeza, iria me fechar e preferir não me confrontar com as testemunhas vivas de meus sonhos não realizados, de minhas batalhas não travadas, de minhas estradas não percorridas. Por isso digo que tenho muitos motivos para olhar pra trás e seguir em frente, com um sorriso enorme no rosto, pronto para novos encontros, reencontros e desencontros!!!

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Luzes, cheiros e rostos.

No momento que saia do hotel em Fortaleza o recepcionista perguntou se precisava de táxi.

Respondi que preferia ir andando por aí.

Ele contesta dizendo que não é seguro andar pela região.

Falo que já é quase meia noite e essa hora os ladrões já estão dormindo e só vou cruzar com os seres da noite: prostitutas, vigias, moradores de rua, gente indo pra balada.

Ele pergunta aonde vou e digo que vou até o Pirata¹ e se não estiver legal vou ao Dragão do Mar².

Ele me olha com aquela cara de que vou me dar mal.

Ignoro e penso comigo: porque as pessoas desenvolveram esse pânico de andar pela cidade? Não precisa ser à noite, mas de andar pela cidade a qualquer hora. Elas só se sentem seguras dentro dos seus Panzers³, protegidas pelos vidros e pelos pinos das portas. Entregam os carros nas portas dos restaurantes, das baladas, descem, entram, bebem, comem, dançam, saem, entram no carro e voltam pra casa. No fim de semana pegam o carro e vão ao shopping, a bolha de plástico da sociedade moderna. Insosso, inodoro, hermeticamente fechado, limpo e isolado do mundo de verdade.

Gosto de caminhar pelas cidades. Ver as pessoas nas ruas. Onde vivem. O que fazem. Que cara tem. Os lugares que freqüentam. Sentir os odores - e fedores - da vida urbana. Ouvir os sons, música e barulhos, de cada rincão. Dobrar uma esquina. Olhar pra cima e descobrir uma construção antiga, moderna, velha, nova. Ver o que nos é impossível ver de carro, pela velocidade ou pelo isolamento olfativo e acústico. Não me sinto vivo isolado do mundo em minha casa, no shopping, no carro e no trabalho. Preciso sentir a vida sendo vivida.

Muitas vezes saio de casa em Sampa no findi e vou andando até a Liberdade, de lá à Sé, atravesso o Centro e sigo até o Mosteiro de São Bento, passo pelo Parque Dom Pedro, cruzo a 25 e vou ao Mercado Municipal. Ali almoço e estico, também a pé, até a Pinacoteca....ou me meto em outras partes da cidade. Saio à noite pela Augusta, volto as 4 da manhã pela Paulista. No Rio, vou da Prudente de Moraes em Ipanema ao Leblon descendo pela praia ou pela Visconde de Pirajá na madrugada ou volto da balada depois de tomar um suco no BB ou comer na Pizzaria Guanabara. Saio da casa de amigos na Lagoa, desço a Jardim Botânico a pé até chegar no Baixo Gávea para tomar um chopp com outros amigos. Me perco pelos quadriláteros da floresta que é a Lapa, que é como a praia no Rio, o ambiente mais democrático que conheci no mundo. Tem de TUDO mesmo !!!!

Claro que não saio avoado, desligado, sem dar atenção ao que acontece à minha volta.

Saí do hotel, depois de ter sido aconselhado também pelo porteiro mas não fui pela calçada, afinal é fácil ser encurralado. Entrei na Avenida Beira Mar, passei em frente ao Restaurante Dona Nair e ao invés de seguir pela orla de Iracema que naquela região está abandonada, segui pela rua de dentro, passando pela capela e cruzando com os táxis que saem do Pirata. Não estava bom. Olhei a rua ao lado e segui por mais 10 minutos de caminhada, meio pela calçada, passando por pontos de ônibus com trabalhadores voltando pra casa, meio pela rua, desviando dos carros dos catadores de lixo da madrugada. Intacto e vivo, no sentido literal, cheguei ao Centro Cultural Dragão do Mar.

Sentei, tomei uma Caipiroska, comi e voltei, já às 2 da manhã, passando e sendo cumprimentado e cumprimentando as prostitutas e os travestis que ganham a vida por ali. Na verdade o pior ser que você pode cruzar na madrugada é o boyzinho no carrão que o papai deu, voltando bêbado da balada. Os seres que moram, comem e dormem na rua são, em geral, inofensivos.

Pois é, assim, em todas as cidades que chego, tento buscar caminhos a pé, tomar o ônibus para ver as pessoas reais que ali vivem, mas claro que não renego o conforto de um carro nas devidas ocasiões. Apenas desfruto mais de tudo que esse organismo vivo que chamamos de cidade pode oferecer.



¹ Bar e boite de Axé e Forró em Fortaleza, já foi considerada a melhor segunda-feira do país

² Centro cultural em Fortaleza, com bares, boites, restaurantes e salas de exposição,

³ Tanques blindados nazistas usados durante toda a segunda grande guerra

domingo, 10 de outubro de 2010

23 anos depois...

Durante a década de 70 visitava a cidade com freqüência com minha família, vínhamos frequentemente em grandes feriados e Natal para a casa de parentes. A viagem era longa e muitas vezes tínhamos que parar e dormir em algum hotel de estrada, afinal eram mais de 400km de estradas sinuosas em mão dupla, com média de velocidade inferior a 40km/h em um Fusquinha ou mesmo num velho Corcel – na época novo.

Havia a parte romântica, pois parávamos em cidades históricas no caminho. Havia curiosidades como a primeira vez que comi um típico pão de queijo que ainda não era industrializado, no subsolo de uma casa em Barbacena, próximo a estrada, onde a própria dona preparava a massa e o fazia na hora. Tenho lembranças dos primeiros amassos com minha prima no banco de trás do carro enquanto meu pai dirigia e minha mãe dormia e não via - ou fingia que não via e, já com 21 anos, a viagem de diversão com meu “irmão”... “Alagados, Springstown, Favela da Maré, a esperança não vem do mar...” era o lançamento do Paralamas na época... fomos curtir os bares da cidade e encontrar um primo que ainda mora por lá e na época era meio, ou muito, louco para ver pegas de moto e de carros.
Pois é....23 anos depois volto a visitar a cidade.

A sensação que me passa deve ser a mesma que nossos pais e avós têm ou tiveram quando voltaram às suas cidades depois de várias décadas. Sempre pensei que não fosse ver tão grande diferença e desenvolvimento como eles viram, que nasceram numa época onde mal se pegava o sinal de rádio e agora vivem na era da internet banda larga, que nasceram numa época onde carros eram poucos e raros e agora vivem em cidades “atopetadas” de veículos; onde uma viagem pra Europa era coisa de milionários e hoje podemos ir facilmente em férias e até em um feriadão curtir uns dias.

Fiquei quase dez anos sem ir a Salvador e fiquei impressionado, mas....23 anos sem ir a BH me impressionou muito mais. Com exceção da parte que já era a mais desenvolvida da cidade como o alto da Afonso Pena com Mangabeiras, Cruzeiro, Serra, toda a cidade se expandiu de uma maneira impressionante. A região das Seis Pistas em Nova Lima onde íamos assistir aos pegas, está lotada de prédios, condomínios, shoppings e tudo mais que é desnecessário enumerar para o que esperamos de uma cidade com mais de 2,5 milhões de habitantes. Mas certas coisas não mudam nem com o tempo: o mineiro é de uma hospitalidade impressionante; seu jeito quieto de lidar com o dia a dia, que é típico de um povo que precisava manter o silêncio na época da mineração e não espalhar que havia encontrado ouro ou diamantes já que o risco de ser morto ou roubado e ainda altamente taxado pela Coroa Portuguesa era enorme e, não posso esquecer da mulher mineira, que não consigo entender qual a razão de serem tão lindas e simpáticas além de terem aquele sotaquezinho delicioso.

Imagino agora o que ainda virá. Como estarão as cidades que conheci pelo Brasil e pelo mundo todo nos próximos 10, 20 anos. E isso só ajuda ainda mais a desenvolver meu prazer por viajar, conhecer novas e visitar velhas conhecidas, que é muito parecido com fazer novos amigos e reencontrar os velhos, que como as cidades, apesar do tempo passado, ainda guardam na sua essência a personalidade e o estilo de cada um.

sábado, 2 de outubro de 2010

Raízes

Andando por aí observo e sinto o apego que a grande maioria das pessoas tem pela sua cidade, seu bairro, sua casa. Nasceram ali, cresceram, fizeram amizades, estudaram, casaram, tiveram filhos e não pensam em sair dali de maneira nenhuma. São as raízes.


Em minhas viagens, por todos os países que passei, independente da raça, cor, nacionalidade, religião, a grande maioria das pessoas é extremamente apegada à terra e, se refletirmos sobre o assunto, nos deparamos com o fato que durante a maior parte de nossa existência fomos nômades e consumíamos o que a bendita terra nos dava, mas a partir do momento que desenvolvemos a agricultura, fizemos como a maioria dos animais selvagens que vivem próximo de uma fonte de água e nos prendemos ao local que nascemos pois ali, onde trabalhamos a terra e onde houvesse uma fonte de água, estaria nosso sustento.


Nos tornamos apegados à terra por necessidade e esse hábito se apegou à raça humana de tal maneira, que mesmo hoje, quando a maioria de nós não precisa trabalhá-la pra se alimentar e morar perto de uma fonte, continuamos apegados ao local onde nascemos. Talvez a resposta para esse comportamento é que ele poderia estar programado em nosso cérebro como muitos outros hábitos que temos e sequer notamos, mas o desenvolvimento da agricultura é muito recente e não teria havido tempo hábil para que nosso cérebro se reprogramasse. Então, a única explicação é que nos condicionamos, e esse condicionamento está diretamente ligado à zona de conforto a qual inconscientemente – ou até conscientemente – buscamos e que nos mantém fixo em algum emprego, por mais que não seja o que queremos, a algum relacionamento, apesar de sabermos que está falido e à uma cidade, apesar de sonharmos com um outro tipo de vida em um outro lugar com outras pessoas... mas essa mudança demandaria esforço, recomeço, dificuldades, adaptação e, como da maneira que está é mais fácil, assim levamos a vida.


Recentemente quando estive no interior do Rio Grande do Sul e de Minas Gerais, conheci muitas pessoas que vivem uma vida tranqüila, com os mesmos amigos desde a infância, os filhos estudando na mesma escola onde eles estudaram, freqüentando o mesmo clube, e começo a me questionar o que realmente somos e como nos portamos, afinal não somos o mesmo ser de há 10.000 anos quando desenvolvemos a agricultura, sequer o mesmo homem do século XIX. Então, porque ainda seguimos tão apegados a terra e sentimos tanta necessidade de criarmos raízes? E o nosso passado nômade, desbravador, mutante e adaptável, onde foi parar?


A agricultura, inicialmente um trabalho árduo que demandava a união de toda a família, de toda a comunidade, onde tínhamos que desbravar terras, nos adaptar a cada ambiente e clima, acabou dando início a um novo comportamento, pois pôde proporcionar através da concentração populacional, desenvolvimento de atividades industriais e culturais e, mesmo sem saber disso, ser a raiz da zona de conforto onde a raça humana se coloca atualmente.